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OPINIÃO | A ‘imitação’ desastrosa na gestão do Ceará

Ceará
Foto: Fausto Filho / Ceará SC

Um pensador alemão disse certa vez que os acontecimentos históricos ocorrem duas vezes. Na primeira vez como tragédia e na segunda como farsa. Outro pensador, também alemão, acrescentou que a farsa é pior que a tragédia. Podemos enquadrar o que se passa no Ceará desta maneira.

O rebaixamento da Série A 2022 representou a pior tragédia dos últimos 10 anos da história do clube, culminando naquilo que podemos compreender como o ápice da incompetência na gestão do futebol ao longo do período em que Robinson de Castro ficou na presidência.

Alguém pode objetar que o Ceará ficou durante cinco anos na elite do futebol brasileiro, tinha sempre um dos menores orçamentos da competição, fez em dois anos boas campanhas ficando, inclusive, perto de se classificar para a pré-Libertadores. Sim, é verdade.

Entretanto, este período na Série A também coincidiu com a crise financeira e esportiva de várias equipes gigantes (Vasco, Corinthians, Cruzeiro, Botafogo e etc…), possibilitando, caso houvesse boa gestão futebolística, que pudéssemos ir mais longe, tal como outros times foram.

Ora, penso que o principal legado da gestão esportiva do ex-presidente do Ceará é a ideia de que o time poderia funcionar sem necessitar da manutenção de um treinador, que impusesse seu estilo de jogo, tal como ocorre em outras equipes, sendo o principal modelo o Athlético-PR, onde isso ocorre há muito tempo sob a presidência de Mário Celso Petraglia que, por ventura, sempre foi o modelo de gestão para Robinson de Castro.

Não é possível reproduzir o modelo do Athlético-PR por uma série de fatores, que aqui não cabem ser tratados.

A tragédia do último ano de gestão do ex-presidente Robinson de Castro se repetiu no primeiro ano de João Paulo Silva. Mas, agora como farsa. Deixo claro que farsa significa aqui imitação desastrosa e não trabalho desonesto, pois não tenho nenhuma razão para imputar desonestidade a João Paulo ou Robinson. Pelo contrário, trato aqui estritamente do modelo de suas gestões a frente da presidência do clube.

João Paulo Silva, atual presidente do Ceará, repete erros de Robinson de Casto. Crédito: Arquivo pessoal

Os principais erros repetidos pelo atual mandatário foram: a manutenção de um modelo de montagem de elenco em que jogadores medianos da mesma posição se revezam em sua baixa produtividade . Por exemplo, os atacantes Nicolas, Guilherme Bissoli e Cléber.

Cada qual ganha um salário no valor de “X”, sendo que se poderia ter um jogador mais efetivo com salário 2X e deixar um desses em sua suplência, falta de cobrança efetiva ao elenco sobre o que significa vestir a camisa do Ceará, pouco uso dos jogares da categoria de base – os quais seriam mais efetivos na composição de elenco que a maioria dos jogadores contratados com salários mais altos – , a política desastrosa de escolha e troca de treinadores.

E, por último, as entrevistas concedidas por ambos os presidentes. Ou seja, a comunicação pessoal com a torcida. Enquanto Robinson de Castro usava estatística e números para fazer parecer que houve a melhor gestão possível, João Paulo Silva está sendo completamente infeliz quando fala em público, posto que, por exemplo, para exaltar a conquista da Copa do Nordeste em sua gestão disse que ninguém vai lembrar da campanha atual desta edição da Série B.

Ceará faz uma campanha desastrosa e é apenas o 11º da Série B. Crédito: CBF

Ele não está de todo incorreto, mas só poderia falar isso em um eventual final de mandato com, minimamente, o time de volta à Série A. Evitar cometer os mesmos erros da gestão anterior passa por uma profunda reformulação da mentalidade do futebol. Até porque, do ponto de vista da administração do clube, Robinson foi o maior presidente que o Ceará já teve.

Na realidade, o ano de 2023 acabou e agora é necessário não repetir a farsa deste ano. Mas, o que se pode esperar do Ceará no ano que vem? Penso que os próximos meses darão um bom termômetro para a análise e nós, como torcedores, precisamos cobrar profissionalismo e que seja sustentado o projeto pensado no início do ano, a fim de implementá-lo integralmente ao longo da temporada e, se for o caso, avaliar no final e mudá-lo para o seguinte ano.

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