No último domingo, 28/05/2024, o Ceará SC de Vagner Mancini obteve uma vitória que não víamos acontecer há anos. Um triunfo que ocorreu na base da raça, da insistência, na pressão de qualquer maneira sobre o adversário, uma vez que chegou um momento do jogo que as táticas não serviam mais. Levando em consideração a crise financeira em que estamos vivendo junto à crise técnica de um elenco curto, se juntarmos essas duas características o resultado provavelmente será um ano mais na Série B do Campeonato Brasileiro. Entretanto, o brio desse elenco me deixa com um fio de esperança de que, de fato, é possível pleitear umas das vagas pra Série A 2025.
Ora, podemos nos perguntar: o que ocorreu na vitória contra a Chapecoense-SC que não aconteceu na quinta-feira (23), em nossa derrota para o CRB-AL? Primeiro, a Chape-SC é um adversário mais frágil que o CRB-AL. Apesar de ter chegado várias vezes ao nosso gol no domingo (26), a Chape-SC dificilmente brigará pelo acesso. Segundo, o CRB-AL jogou de forma muito inteligente nos dois jogos, ou seja, eles se entendiam como tecnicamente inferiores a nós e se propuseram jogar para não perder nos dois jogos e, caso uma vitória viesse a acontecer, seria um grande lucro, o que verdadeiramente ocorreu.
Contra o CRB-AL, pelo menos no jogo da volta na Arena Castelão, o Ceará SC jogou bem, envolveu o time alagoano e não chegou a marcar um gol por pouco. Além disso, levou um gol em uma mistura de azar com falha do goleiro Richard (mas, o rapaz tem crédito na praça alvinegra).
Há em comum nas duas partidas, além disso, uma enxurrada de críticas ao trabalho do técnico Vagner Mancini, que, na minha visão, são extremamente injustas com um treinador plenamente identificado com nossas cores e com nosso clube. Penso que a torcida não está compreendendo em que patamar estamos. Voltamos a ser uma equipe de Série B, com orçamento de segunda divisão e com uma crise financeira e de gestão.
Mancini não é apenas um técnico que está acima do nosso patamar no momento, mas também alguém que escolheu estar aqui e provavelmente é a melhor escolha para tocar o barco até o fim da temporada, não importando o resultado. Não podemos pagar um treinador que esteja um nível acima dele e também esses treinadores não aceitariam estar na Série B na situação que o Ceará SC se encontra hoje.
Por que taticamente defendo o trabalho do Mancini? Porque o grande problema do time é o elenco, principalmente, jogadores que atuam no meio-campo. Há falhas de marcação recorrentes na equipe e nota-se que a maioria absoluta não se dá por posicionamento ruim dos atletas (que também ocorre e é difícil julgar se é o treinador que manda se posicionar de determinada maneira ou o jogador que erra o posicionamento correto), mas, sim, por termos jogadores lentos no meio-campo.
Richardson (que é nosso melhor marcador), Guilherme Castilho, Lourenço, De Lucca etc., nenhum destes se mostrou bom marcador no sentido de acompanhar bem os movimentos dos adversários, de modo que os passes entre linhas não passem da nossa linha de marcação. Na verdade, está ocorrendo o contrário, levamos muitos passes entre linhas e Mancini, corretamente, povoou a marcação quando esses passes chegam nos atacantes. Ou seja, colocou três zagueiros para conter as falhas de marcação do meio campo.
Ainda é cedo para sabermos se esse novo esquema com três zagueiros vai fazer diminuir o número de gols tomados, mas uma coisa é certa: esse esquema potencializou nosso ataque com a subida dos laterais, os meias estando mais perto da área e provendo liberdade ao “menino” Erick Pulga.
Portanto, penso que nosso treinador não é um problema e que seus erros se dão muito mais por conta de termos um elenco limitado, que exige experimentação constante, do que propriamente por falta de aptidão de Mancini para a função.
Além disso, apesar da limitação do elenco, temos um plantel com ganas de fazer história conosco e isso é tão importante quanto termos vários talentos no clube. Se na Série A de 2022 tivéssemos jogadores com a atitude desse elenco atual, jamais cairíamos de divisão. Contudo, não podemos ter tudo que queremos, mas podemos sim compreender até onde nossos desejos mostram a realidade ou uma ilusão de grandeza passada que ainda não voltou.
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