A partida entre Goiás x Ceará, realizada na segunda-feira (12), no estádio da Serrinha, em Goiânia-GO, pela 20ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, deveria constar em todos os manuais de arbitragem pelo mundo afora, na medida em que demonstra claramente a total falta de acurácia do árbitro em suas decisões e também um visível cansaço no final da partida, o qual é nítido pela distância do árbitro tanto em relação à falta em Jean Irmer quanto na sequência deste lance, ou seja, o pênalti dado para a equipe goiana.
Devemos tomar muito cuidado ao julgar as decisões da arbitragem, uma vez que, de fato, nós torcedores de futebol, em geral, desconhecemos as sutilezas da regra e suas sobreposições, isto é, as recomendações da FIFA e da CBF em relação à interpretação das regras. Neste sentido, podemos até aceitar o primeiro gol do Goiás como legítimo, uma vez que a bola, verdadeiramente, bate no braço (que está aberto) de Lourenço e não é conclusivo que há dois toques na cobrança do pênalti, pois apesar de que há um ângulo em que se pode ver nitidamente a movimentação da bola após o chute não se pode concluir que aquele movimento seria da bola triscando o pé esquerdo do goleiro do Goiás ou um montinho de grama.
Entretanto, o segundo pênalti é um acinte contra todas as pessoas presentes. Houve, pelo menos, sete faltas similares àquela que Irmer sofreu e que foram apitadas no mesmo jogo. Além disto, a jogada que efetiva a penalidade mostra que o jogador do Goiás se projeta em cima de David Ricardo, inclusive, com o cotovelo em seu pescoço, configurando falta para o Ceará. Depois do pênalti marcado havia duas hipóteses para a arbitragem: primeiro, o VAR chamá-lo para que ele revisasse todo o lance e pensasse se suas decisões foram, realmente, acertadas.
Segundo, se o árbitro dispensou a ajudar do VAR e chamou para si a responsabilidade sobre o que viu. Se ocorreu isto, o árbitro é o grande culpado e realmente merece uma boa punição. Contudo, apesar da fulanização do erro de arbitragem (Wagner do Nascimento Magalhães), este está longe de ser responsabilidade única e exclusiva dos árbitros ou de um árbitro que erra em um jogo específico (no caso em questão, o senhor Wagner). Clubes, jogadores, federações, CBF etc., todos são culpados e são incapazes de apresentar ou patrocinar o estudo para que haja qualquer solução.
Vivemos de reclamações sobre o único protagonista que não é profissional em jogo de futebol, visto que jogadores, treinadores, médicos e todos os envolvidos em uma partida tem, realmente, o futebol como sua profissão, menos os árbitros, que são prestadores de serviços terceirizados.
Por conta disso, da mesma maneira que ocorre com a saúde mental (culpa-se sempre o indivíduo pelo adoecimento psíquico, quando, na verdade, é uma questão social de falta de emprego, carestia, falta de serviços básicos etc., que reverbera ali), a arbitragem precisa de uma solução que não se fixe apenas no indivíduo, mas na estrutura. É necessário que se crie um quadro fixo de, pelo menos, 60 árbitros da CBF, que tenham um salário compatível e que treinem diariamente para arbitrar partidas nacionais. Este quadro de árbitros precisa ter um centro de treinamento e tecnologias que auxiliem no desenvolvimento dos atuais árbitros e na formação dos futuros juízes.
Proponho também que tais árbitros não mais sejam ligados às federações (o que não impediria as federações de também terem quadros de árbitros que eventualmente possam suprir as demandas das partidas), mas exclusivamente a uma comissão de arbitragem independente da CBF. Os recursos para a profissionalização da arbitragem devem vir de todos os clubes, principalmente, da quantia da venda de diretos de transmissão, ou seja, cada clube daria um percentual proporcional ao que recebe de direitos televisivos. Também deve vir dos jogadores, de maneira que, por exemplo, poderia haver uma taxa de 2% do salário de cada jogador, retido pelo clube, para ajudar a patrocinar a arbitragem.
Portanto, estes erros contra o Ceará, apesar de recorrentes e doloridos, revelam a profunda estrutura amadora da arbitragem do futebol brasileiro e a reação pífia dos dirigentes, jogadores e envolvidos no futebol de modo amplo, que apenas ficam no nível da reclamação, sendo, de fato, incapazes de propor soluções ao problema. Já vi o Ceará ser beneficiado pela arbitragem várias vezes e muitíssimas outras o vi ser prejudicado; o eu que nunca vi, e penso que será difícil ver, é uma atitude da diretoria para propor uma outra forma de preparação da arbitragem.
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