“Calça de Veludo ou nádegas de fora”; “Almoçar bem e dormir com fome”; “Viver pouco como um rei ou muito como um Zé?” Todas estas frases retiradas da sabedoria popular de alguma maneira nos contam sobre os dilemas que o Ceará vai enfrentar no próximo ano.
Precisamente, tais dilemas se condensam em uma questão fundamental a saber: o Vozão deve suar sangue em um esforço tremendo e comprometer todo o planejamento do ano para tirar o Hexa do rival Fortaleza ou concentrar-se apenas na montagem de um elenco forte para a Série B do Brasileiro?
Ora, há uma lista interminável de times que se esforçaram tremendamente para conseguir tirar um título inédito de seu rival no primeiro semestre e, por conta disso, tiveram um mau desempenho no segundo semestre. Talvez o caso mais emblemático seja o do nosso principal rival, que em 2015 conseguiu a duras penas tirar nosso pentacampeonato estadual, mesmo que o preço para isso tenha sido conservar uma posição na Série C por outros dois anos.
O contrário também é verdadeiro, uma vez que o Vitória-BA teve um primeiro semestre sofrível em 2023 e encerrou o ano como campeão da Série B 2023, por meio de um bom planejamento que comprometia o Campeonato Baiano.
Em uma noite de conversas regadas a cervejas com meu amigo Hélio Parente, torcedor do rival, ele chegou a conclusão que nada é mais importante do que tirar um título inédito do rival, não importando os grandes custos para o resto da temporada. Eu discordo veementemente de sua posição, a qual penso ser imediatista e terrível para a saúde de qualquer clube.
O Ceará apenas poderá competir, de fato, com o rival quando voltar à Série A e este deve ser o objetivo máximo de todos que fazem o clube (competir aqui significa não precisa fazer um esforço descomunal para igualar-se com o rival). Ora, isso não significa que não vamos lutar para ganhar o Campeonato Cearense 2024.
Pelo contrário, devemos lutar bravamente, mas não de uma maneira que comprometa todo o planejamento do ano, tal como ocorreu no ano de 2023 com a demissão de Gustavo Morínigo em decorrência dos resultados no Estadual do primeiro semestre.
Penso que apenas poderemos ser outra vez tetra, penta e eventualmente até hexacampeões se estivermos na Série A, com saúde financeira equilibrada e com um time forte. Minha posição é a de que é preferível aguentar um momento de felicidade do rival do que ser imediatista com uma alegria efêmera que compromete o resto da temporada.
Isso também não significa que o Cearense não seja um campeonato importante, ele é por sua tradição, revelação de jogadores, pelas rivalidades locais etc. Contudo, este campeonato precisa ser reformulado e atualmente é um peso para a temporada, principalmente para uma equipe que está na Série B, refazendo completamente o elenco.
Por conta de tal reformulação, o Ceará muito dificilmente poderá colocar em prática o que seria mais razoável, isto é, dedicar-se igualmente para alcançar os dois objetivos: tirar o Hexa do rival e subir à Série A. Portanto, entre um momento feliz seguido de várias tristezas e um momento triste sucedido por grandes alegrias, eu prefiro o segundo.
Ainda assim, não penso que o torcedor do Ceará tem de necessariamente concordar comigo, mas é essencial saber as consequências de nossas escolhas, pois delas virão a pressão colocada no corpo diretivo do clube, o qual, até aqui, se mostrou muito suscetível ao calor da torcida.
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