Em meio à falta de organização e incompetência da diretoria do Ceará, juntando isso ao desempenho irregular da equipe em campo com os gols inacreditáveis que o time sofreu, eu gostaria de mudar o clima da coluna de hoje e falar sobre um assunto assaz interessante: o que significa para um torcedor do Vozão que mora fora do Estado torcer pra nossa equipe? Ou mesmo qual é a emoção de assistir um jogo do Ceará in loco em outra parte do país? Já se imaginaram acordar de madrugada para ver partidas do Ceará desde a China?
Opinião: De único invicto do torneio a 5 jogos sem vencer, os bastidores do Ceará irão influenciar no trabalho?
Eu posso responder estas três perguntas, porque todas me dizem respeito. Por três oportunidades diferentes, vivi fora de nosso estado. Morei em Porto Alegre durante o ano de 2012; residi em Campinas-SP ao longo de 2015 até 2019 e entre este período, precisamente, em 2017, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio de pesquisa em Hong Kong na China. Esses três momentos, trouxeram-me relações diferentes para poder acompanhar o clube.
Em Porto Alegre, acompanhei o Ceará na Série B de 2012. Internacional e Grêmio jogavam a Série A, o que não me deixou ver meu time no estádio, mas me trouxe outro tipo de experiência, ou seja, procurar bares assinantes do Premiere e implorar, pelo amo de Sérgio Alves, para colocar no jogo do Vovô. Na maioria das vezes deu certo e, apesar de estar longe e do time ter tido um péssimo desempenho naquele campeonato, pude matar um pouco da saudade. Inclusive, consegui visitar o museu do Grêmio vestindo a camisa do Ceará por baixo do blusão de frio e, obviamente, contestei ao guia sobre a copa do Brasil de 1994, o qual não meu deu muita bola. Mas, meu desagravo ficou!
Por sua vez, no ano de 2015 consegui ver três partidas do Ceará naquele heroico campeonato da arrancada contra o rebaixamento à Série C. O primeiro jogo foi contra o Mogi-Mirim na cidade de mesmo nome; peguei uma carona em uma viagem de aproximadamente duas horas, cheguei cedo e dei um passeio na cidade. De repente, deparei-me com o hotel em que o Ceará estava hospedado, podendo cumprimentar os jogadores da época (Ricardinho, Bill etc.). Contudo, o clima mudou quando fiz a piada infame de que o Rafael Vaz era meu jogador favorito porque representava a minha classe, a dos ‘barrigudinhos de leve’. Apesar da cara feia dos jogadores, a piada não atrapalhou o desempenho em campo e o time meteu 2 x 0.
Encontrar outros torcedores do Ceará nesse dia foi fantástico; gente que não vinha em nosso estado há mais de 20 anos, mas não perdia uma partida do time, é como se o Ceará fosse a principal conexão com as origens. Vinha gente de todo o estado de São Paulo para ver o time, o que tornou o clima excelente e de camaradagem entre aqueles exilados. O mesmo aconteceu em Bragança Paulista, contra o antigo Bragantino, e também contra o Oeste, que mandava seus jogos em Barueri e cujo técnico era nada mais nada menos que Fernando Diniz, que fazia sua equipe sair tocando desde o goleiro.
Se a reunião de torcedores do Ceará em partidas em São Paulo aplacava a saudade de casa, em Hong Kong assistir o Ceará pelo computador era o principal meio para lembrar-se das origens. Em 2017, tivemos nossa última campanha do acesso à Série A, o que fazia com que eu acordasse de madrugada ou mesmo muito cedo para assistir as partidas. Por mais que eu tivesse que estar desperto para ir à universidade logo depois e acordar bastante cedo atrapalhasse minha concentração ao longo dia, digo que valia a pena o esforço. Inclusive, fiz com que dois amigos chineses passassem a torcer pelo Ceará.
Se o exílio faz você estreitar os laços com suas origens, no meu caso o Ceará, ele também mostra a você que a volta é saborosa e nos faz valorizarmos o que temos. Apesar das oscilações do time em 2024, sou otimista e penso que estamos no caminho certo; a temporada apenas começou e estamos com uma equipe completamente nova. Assim espero, pois penso naqueles que estão neste exato momento acompanhando o Ceará desde várias partes do Brasil e do mundo. A estes e a estas, desejo a doçura do sabor da terra natal materializada nos feitos do nosso time de coração. PS: gostaria de avisar que não sou rico ou nada que disso se aproxime; muito pelo contrário. Todas estas viagens, eu as fiz patrocinadas por Bolsas de Estudo, que me proporcionaram viver em outros ambientes de pesquisa e melhorar a minha própria.
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