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Opinião: O Ceará e o exílio

Elenco do Ceará / Torcida do Ceará
Foto: Felipe Santos / Ceará SC

Em meio à falta de organização e incompetência da diretoria do Ceará, juntando isso ao desempenho irregular da equipe em campo com os gols inacreditáveis que o time sofreu, eu gostaria de mudar o clima da coluna de hoje e falar sobre um assunto assaz interessante: o que significa para um torcedor do Vozão que mora fora do Estado torcer pra nossa equipe? Ou mesmo qual é a emoção de assistir um jogo do Ceará in loco em outra parte do país? Já se imaginaram acordar de madrugada para ver partidas do Ceará desde a China?

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Eu posso responder estas três perguntas, porque todas me dizem respeito. Por três oportunidades diferentes, vivi fora de nosso estado. Morei em Porto Alegre durante o ano de 2012; residi em Campinas-SP ao longo de 2015 até 2019 e entre este período, precisamente, em 2017, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio de pesquisa em Hong Kong na China. Esses três momentos, trouxeram-me relações diferentes para poder acompanhar o clube.

Em Porto Alegre, acompanhei o Ceará na Série B de 2012. Internacional e Grêmio jogavam a Série A, o que não me deixou ver meu time no estádio, mas me trouxe outro tipo de experiência, ou seja, procurar bares assinantes do Premiere e implorar, pelo amo de Sérgio Alves, para colocar no jogo do Vovô. Na maioria das vezes deu certo e, apesar de estar longe e do time ter tido um péssimo desempenho naquele campeonato, pude matar um pouco da saudade. Inclusive, consegui visitar o museu do Grêmio vestindo a camisa do Ceará por baixo do blusão de frio e, obviamente, contestei ao guia sobre a copa do Brasil de 1994, o qual não meu deu muita bola. Mas, meu desagravo ficou!

Por sua vez, no ano de 2015 consegui ver três partidas do Ceará naquele heroico campeonato da arrancada contra o rebaixamento à Série C. O primeiro jogo foi contra o Mogi-Mirim na cidade de mesmo nome; peguei uma carona em uma viagem de aproximadamente duas horas, cheguei cedo e dei um passeio na cidade. De repente, deparei-me com o hotel em que o Ceará estava hospedado, podendo cumprimentar os jogadores da época (Ricardinho, Bill etc.). Contudo, o clima mudou quando fiz a piada infame de que o Rafael Vaz era meu jogador favorito porque representava a minha classe, a dos ‘barrigudinhos de leve’. Apesar da cara feia dos jogadores, a piada não atrapalhou o desempenho em campo e o time meteu 2 x 0.

Encontrar outros torcedores do Ceará nesse dia foi fantástico; gente que não vinha em nosso estado há mais de 20 anos, mas não perdia uma partida do time, é como se o Ceará fosse a principal conexão com as origens. Vinha gente de todo o estado de São Paulo para ver o time, o que tornou o clima excelente e de camaradagem entre aqueles exilados. O mesmo aconteceu em Bragança Paulista, contra o antigo Bragantino, e também contra o Oeste, que mandava seus jogos em Barueri e cujo técnico era nada mais nada menos que Fernando Diniz, que fazia sua equipe sair tocando desde o goleiro.

Se a reunião de torcedores do Ceará em partidas em São Paulo aplacava a saudade de casa, em Hong Kong assistir o Ceará pelo computador era o principal meio para lembrar-se das origens. Em 2017, tivemos nossa última campanha do acesso à Série A, o que fazia com que eu acordasse de madrugada ou mesmo muito cedo para assistir as partidas. Por mais que eu tivesse que estar desperto para ir à universidade logo depois e acordar bastante cedo atrapalhasse minha concentração ao longo dia, digo que valia a pena o esforço. Inclusive, fiz com que dois amigos chineses passassem a torcer pelo Ceará.

Se o exílio faz você estreitar os laços com suas origens, no meu caso o Ceará, ele também mostra a você que a volta é saborosa e nos faz valorizarmos o que temos. Apesar das oscilações do time em 2024, sou otimista e penso que estamos no caminho certo; a temporada apenas começou e estamos com uma equipe completamente nova. Assim espero, pois penso naqueles que estão neste exato momento acompanhando o Ceará desde várias partes do Brasil e do mundo. A estes e a estas, desejo a doçura do sabor da terra natal materializada nos feitos do nosso time de coração. PS: gostaria de avisar que não sou rico ou nada que disso se aproxime; muito pelo contrário. Todas estas viagens, eu as fiz patrocinadas por Bolsas de Estudo, que me proporcionaram viver em outros ambientes de pesquisa e melhorar a minha própria.

Elenco do Ceará / Torcida do Ceará
Foto: Felipe Santos / Ceará SC

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