Meu Vozão Ceará Sporting Club

OPINIÃO! Ceará procura velhos conhecidos para realizar uma temporada diferente

Foto: Arquivo pessoal

Coluna Vozão: texto de Lucas Mattos.

Caro torcedor, mais uma temporada esportiva se iniciou. O torcedor alvinegro mal digeriu o rebaixamento e já tem competições a disputar. Para mim, que moro longe (no exterior), foi extremante melancólico ver esse rebaixamento, pois nem o direito de protestar contra o time na Arena Castelão eu tive, assistindo o Ceará madrugada adentro e tendo uma insônia pelo resto da noite. Foi isso o que me aconteceu nos últimos meses de 2022.

Como é possível o maior orçamento da história fazer uma campanha tão pífia na temporada? Mesmo tendo toda a estrutura de um grande clube e com salários em dia, dinheiro sem competência a bola pune. Como diz o Ferran Floriano, ex-diretor do Barcelona, “ a bola não entra por acaso”. Existem equipes com menor investimento e com menos “jogadores caros” que garantiram a permanência e nós amarguramos a “maldição” dos cinco anos de Série A. Como pode? Eu, sendo muito cético, não acredito em maldições, mas sim em péssimas decisões.

Tudo o que se planta, se colhe e nossa “semente do mal” começou lá atrás, quando fizemos um péssimo planejamento da temporada, fomos eliminados por times inferiores tecnicamente e com orçamentos menores que o nosso na Copa do Nordeste e no Campeonato Cearense. Ao invés de fazermos um reset do plano do Tiago Nunes, mais uma vez acreditamos no puxadinho de sempre: improvisar para ver o que vai dar. E deu! Em raio chamado Dorival Júnior que iludiu a torcida e a diretoria que essa temporada seria diferente e que nem a pau o Ceará desceria. Pelo contrário, “com esse time aí é no mínimo pré-Libertadores e vitória sobre o Palmeiras fora de casa”. Esse delírio coletivo não durou muito tempo e na primeira oportunidade, o “véio da lancha” nos deixou órfãos de treinador e de modelo de jogo.

Iludidos, acreditávamos que qualquer treinador vindo da shoppee faria o mesmo que o Dorival. Rever nossas decisões? Claro que não! Vamos trazer o Marquinhos Santos, ficar não sei quanto tempo à procura de um técnico e apostar num ex-jogador que nunca foi treinador principal, para depois finalizar tudo com “chave de ouro” com um interino.

Já tinha sofrido com o Ceará em 2018, 2019 e 2021, mas nunca vi um final de campeonato tão melancólico e triste como o de 2022. Dentro dos cinco anos foram muitas oportunidades em que tivemos de ser rebaixados, inclusive matematicamente, mas ano passado vimos a torcida perder a esperança e o ânimo em acreditar no Ceará. O jogo do Cuiabá é a facada no coração no torcedor. Moralmente fomos rebaixados ali, me senti mais envergonhado com aquele empate do que se o Ceará fosse goleado pelo Dourado.

Quanto à liderança em campo, eu tenho a seguinte opinião: o nosso melhor ano foi o de 2020. Justamente porque tínhamos as melhores lideranças nas quatro linhas, vencedores por onde passaram. Desde a saída de nomes como o Fernando Prass, Fabinho e Ricardinho, por exemplo, vimos que a identidade foi sendo mudada e que as polêmicas fora de campo começaram a fazer parte do noticiário. É duro dizer, mas os que ficaram não estavam à altura dos desafio vindouros. Lembro de uma live em que participei com o João Marcos, que em um momento de forte instabilidade em 2015 o próprio elenco “expulsou” um grupo de jogadores que estavam só no “migué”, chegando inclusive a dizer ao treinador que “com esse jogador o GRUPO não conta e quem ficar aqui vai dar conta do recado”. Isso é ser Ceara! Que falta esses tipos de jogadores fazem dentro de um grupo, mesmo que limitados tecnicamente, ganhando infinitamente menos, mas com a cabeça num propósito maior, que naquele ano era escapar do rebaixamento. A bola não entra por acaso.

E como é obvio não podiamos deixar de culpabilizar quem assina o cheque: nossa diretoria, representada pelo Robison de Castro. Infelizmente, acredito que a transparência teria atenuado muitas questões em relação à gestão dele. O silêncio que perdura até ao momento só aumenta o nivel de rejeição ao presidente. Não tenho memória curta como alguns emocionados, que dizem que tudo que foi feito por ele. Agora é terra arrasada, mas está mais do que claro que o tempo de gestão dele chegou ao fim. Dizem algumas pessoas que essa demora em sair do cargo é por razões da nova Liga, que está sendo criada e que a sua figura seria central para que o acordo fosse finalizado da melhor forma para o Ceará. Que um presidente em exercício não poderia assinar esse contrato. Quero que esse último ato seja feito, de maneira a sair com a cabeça erguida e claro, com um grande pedido de desculpa ao torcedor alvinegro, que esse ano, mais uma vez, foi incansável e fiel.

Feito esse balanço geral, queria falar um pouco do nosso presente-futuro. No final do ano passado, tive a oportunidade de visitar a sede enquanto era feita a preparação da pré-temporada. Muita gente chegando e outros indo embora (muitos sem deixar saudades, diga-se de passagem). Sem tanta pompa comecei a observar a estrutura e realmente temos um grande patrimônio em Porangabuçu, pois se outra hora tínhamos dificuldades de pagar uma conta de luz, hoje vemos equipamentos de última geração e isso é um grande atrativo, visto que atletas de qualidade procuram boas estruturas. Nosso mercado para uma Série B foi bastante interessante. Trazer nomes como Luvannor, Chay, Janderson e Jean Carlos mostra o quanto uma boa estrutura pode ter convencido esses atletas. A estrutura é o esqueleto deste universo chamado Ceará, mas ainda falta a nossa alma, ou como diz nosso grandíssimo Marco Túlio, “o DNA do Ceará”. Precisamos trazer pessoas com vontade e com desejo de fazer diferente e alinhar isso com a experiência de vencedores.

Estrutura interna da sede do Ceará. Crédito: Arquivo pessoal

Quando já estava a finalizar a visita, pude bater um papo com o PC Gusmão e ali pude ver um pouco dessa alma que falta à nossa estrutura. Ele contou um pouco do trabalho que tem feito como diretor técnico, primeiro fechando com um grupo de atletas que acreditam no projeto de 2023 e segundo mandando embora o pessoal que não está alinhado com a meta desse ano. Segundo ele, essa temporada dará oportunidade a alguns meninos vindo da base e que o elenco terá no máximo 27 jogadores para que os níveis competitivos sejam mantidos. Isto para que todos possam estar envolvidos no objetivo de subir o Ceará de volta à elite. De subida o homem entende, tem muita estrela. Longe de ser perfeito, mas com grande identidade com o Vozão, sabendo o significado do que é ser Ceará. Com esse tipo de pessoa fazendo parte do projeto, acredito que conseguimos sim achar nossa identidade que foi descartada em 2022. Desejo também muito sucesso ao Albeci Júnior e o Juliano Camargo, para que enquanto executivos possam trazer a expertise nos processos.

E, para finalizar, o que dizer dos nosso jogadores que ficaram, além da identificação de novos líderes dentro deste grupo de 2023? Resta agora saber como os reforços vão se comportar, pois o primeiro jogo aconteceu e quis o destino que fosse na terra da fé alencarina, com direito a sufoco no avião. Vencemos nosso primeiro desafio contra o aguerrido Guarani de Juazeiro, fazendo um gol logo de início e facilitando um pouco no decorrer do primeiro tempo. Já no segundo, conseguimos imprimir um ritmo mais forte e os juazeirenses não tiveram chances.

Tudo isso foi assistido por alguns milhares de alvinegros que estavam no novo Romeirão e por tantos outros, como eu, que se aventuravam pelos “links” da internet. O que vimos foi um Ceará converter dois pênaltis e ver um gol de camisa nove, tudo isso numa partida só. Uma torcida desconfiada aplaudiu uma vitória e assim será nas próximas partidas, reconquistando aquilo que foi perdido ao longo dos últimos meses e dando alegrias a essa torcida tão apaixonada, que precisa de paz e tranquilidade, pelo menos uma vez por semana. Ainda bem que esse jogo foi cedo para mim.

Visita ao Ginásio Vozão. Foto: Arquivo pessoal

Menção honrosa para o Janderson, que venceu o prêmio de melhor da partida, recebendo o troféu Dragão do Mar (herói cearense que lutou pela abolição pioneira da escravatura no Estado e que fez história). História essa que Vina, o nosso camisa 29, prometeu que iria fazer nas várias coletivas concedidas. O que esperamos dele são menos polêmicas e mais compromisso com essa torcida que o abraçou, que se chega à frente para pagar o seu sócio, para que o salário esteja em dia. Não existe, no papel, nenhum jogador na Série B tão diferenciado como o Vina, mas resta saber o quanto ele acredita nesse diferencial e o quanto ele quer ser novamente abraçado pela torcida. Sempre haverá uma porta aberta para quem quer o bem do Ceará, ainda mais para quem tem tanto talento. Vina, podemos contar contigo?

Dizem que as grandes mudança acontecem quando terminam e não quando começam. Nosso começo tem sido desconfiado. Do nosso clube temos somente uma certeza: sua torcida. Essa não passa e, por mais magoada que esteja, nunca foi de abandonar nas horas difíceis. Pelo contrario, a massa alvinegra o prazer de surpreender. Do torcedor mais otimista ao pessimista, nosso clube é o Ceará Sporting Club e é por ele que vivemos essa paixão e o viver tem que ser agora.

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