Henrique Azevedo
Gostaria de trazer ao debate um tema, o qual tratarei de forma unilateral e sem nenhum trato estatístico, senão um sentimento colhido nas minhas idas ao estádio e também nas discussões nas redes sociais (principalmente no X/Twitter), a saber, a deseducação futebolística presente, em geral, na torcida do Ceará.
O que exatamente isso significa? Para explicar quero dar um exemplo claro: ontem, 15/05/2024, ganhamos por 2 x 1 do Amazonas-AM. Tivemos uma excelente atuação no primeiro tempo no qual fizemos dois gols e poderíamos ter ampliado o placar. Contudo, no segundo tempo, o time caiu drasticamente de produção, sofreu um gol e em um lance parecido quase leva o empate em uma partida que parecia extremamente fácil.
A torcida após a partida misturava dois sentimentos conflitantes: estava, ao mesmo tempo, furiosa e aliviada. A vitória foi importantíssima e elevou o Vovô na tabela, dando também confiança. Entretanto, a torcida estava possessa, fazendo diversas críticas ao treinador Vagner Mancini, devido o modo como a equipe se comportou defensivamente no segundo tempo.
Alguns, inclusive “pediam a cabeça” do treinador. Em minha visão, a explicação para esse comportamento da torcida se relaciona, por um lado, com a crítica esportiva do estado, e, por outro lado, com a péssima comunicação da diretoria em revelar os limites do clube.
Ora, a crônica esportiva cearense, principalmente, os três grandes programas esportivos da TV aberta (Futebolês, Trem Bala e TVC Esporte Clube) fazem uma mistura de crítica mal embasada com humor que confunde o expectador por não conseguir entender muito bem o limite entre a “frescada” bem-humorada e uma análise dos limites e alcances possíveis do time do ponto de vista tático, técnico e diretivo.
Esse tipo de crítica esportiva mal embasada faz o torcedor pensar que a equipe pode mais do que está entregando. A grande verdade é que não pode e se subirmos vai pelo esforço destes que aí estão.
O outro lado dessa moeda é a fraca política de comunicação da diretoria do Ceará para com a torcida. Aqui se misturam falta de transparência geral no clube, as metas para o ano sempre deveriam ser atualizadas a cada mês, a tática de esconder os limites financeiros do clube etc.
Essa “mistura” talvez sirva para prestidigitar a incompetência geral da alta cúpula da diretoria ao preço da “deseducação” da torcida, que não compreende os motivos pelos quais o time marca mal, sendo que, na realidade, o Ceará não tem dinheiro para fazer novas contratações.
Ontem, além de tornar latente outra vez a deseducação da expectativa da torcida em relação ao time, também revelou que estamos no único caminho possível dadas as circunstâncias. A torcida não leva em consideração as viagens desgastantes (viajar entre 7 e 8 horas entre avião e conexões para chegar ao interior de São Paulo, duas últimas partidas fora de casa do time), a falta de dinheiro para contratação, a vontade e entrega dos jogadores em campo, a péssima condição do gramado do Castelão e etc., e acaba querendo ver um time em campo que é impossível de ter em curto prazo.
Apoiar incondicionalmente esta equipe que aí está com este treinador que aí se encontra não impede de criticar a terrível administração da diretoria até aqui. Ontem entendi a atuação do time devido o desgaste e fiquei feliz com a vitória. A próxima partida será no interior do Paraná e temos de entender se houver uma derrota. Não será o fim do mundo. Eduquemo-nos melhor para compreendermos os processos do futebol.
Que a democracia floresça no Ceará!
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