Após as duas derrotas seguidas do Ceará contra Goiás-GO e Mirassol-SP, esta última em casa e com estádio cheio, vi uma postagem no finado X (também finado ex-Twitter) de um torcedor do Vozão que, cheio de boas intenções (como todos no Inferno), propunha que o nosso clube deveria virar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) e vender-se a um fundo de investimento árabe ou semelhante, tal como foi feito com o Bahia. Na mesma postagem, outro torcedor comentou que não queria gente não identificada com o time o comandando e preferia uma SAF como a do nosso rival em que o torcedor comum pode comprar ações, mesmo que pequenas, do clube.
Ora, como professor de Ética e Metafísica que sou, gostaria de explicar a quem interessar possa que este tipo de pensamento nada mais é que o sinal mais nefasto do nosso tempo. Há uma visão geral, amplamente divulgada e patrocinada por quem tem interesse nisso, de que as empresas são melhores geridas que os estados e associações desportivas, as quais seriam ineficientes e dispendiosas. Esta é uma grandessíssima falácia, que é escondida por uma filosofia da administração de empresas que escamoteia a relação entre lucros privados e prejuízos públicos. Ora, empresas como a que fornecem energia elétrica ao Estado do Ceará e as de telefonia móvel são as mais acionadas no PROCON, por conta dos maus serviços, que por serem de interesse público o Estado Brasileiro sempre precisará intervir caso haja algum problema para não deixar a população desguarnecida.
Contudo, no futebol não existe essa prerrogativa, ou seja, se o Ceará virar uma SAF e houver uma má administração a ponto do clube quebrar, completamente, não haverá estado nenhum para nos salvar. Aconteceu um exemplo bem didático com o Bordeaux, da França, que é uma SAF no estilo francês e entrou em bancarrota a ponto de virar um clube amador. Obviamente, se pode retrucar que um clube associativo também pode vir a quebrar etc.; Sim, ele pode. Contudo, reerguer um clube associativo é muito mais simples, do ponto de vista fiscal, do que tirar do buraco uma SAF.
O que está por trás do pensamento de uma SAF no Ceará é um desespero da torcida em relação ao elitismo da diretoria, que está acostumada a tratar o clube como quintal de sua casa, brinquedo de milionário, trampolim político etc., sempre deixando a torcida sem participação política direta. Contudo, SAF não vai democratizar o clube, uma vez que o objetivo de uma empresa é lucrar e não ganhar campeonatos (vide o Manchester United-ING que não ganha nada relevante há anos e, mesmo assim, é um dos clubes que mais compartilhar dividendos com seus acionistas) e tampouco a diretoria vai deixar que a torcida participe politicamente dos destinos do clube.
A torcida necessita, com isso, se mobilizar todos os jogos em casa para demonstrar seu desagravo à diretoria, não importando os resultados. Temos que deixar explícito que, sem a participação política dos sócios, não haverá paz para o quadro diretivo. Assim como há uma diferença entre indígena e alienígena (ou seja, indígena é aquele que pertence à terra e alienígena, ou colono, é aquele que se apropria da terra em que não tem ligação), temos que deixar claro que somos torcedores indígenas, ou seja, pertencemos ao clube.
NOSSO VÍNCULO COM O CEARÁ
Nosso vínculo é tão forte que nada abala nosso amor, mas não esperem que fiquemos quietos diante de qualquer sinal de nossa exclusão dos destinos do clube. Na próxima partida estaremos no estádio e demonstraremos nosso amor pelo clube e nosso desagravo aos apropriadores de nossa paixão (obviamente, sem cometer nenhum ato de violência ou indignidade diante dos que estão a frente do clube hoje). Ah, para não dizer que não falei de futebol, apesar das várias chances desperdiçadas, conquistamos um excelente resultado fora de casa, em Manaus-AM.
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