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“Me senti abraçado pelo clube que amo”, diz torcedor LGBT do Ceará vítima de preconceito no estádio

Foto: Divulgação / Ceará SC

Nessa terça-feira (17), Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, o Ceará utilizou suas redes sociais para se posicionar pela primeira vez a favor da campanha de combate ao preconceito aos homossexuais, transgêneros e transexuais. Para alguns, um ato simples. Mas, para outros, algo de muita importância, em especial para o torcedor Júnior Saad, torcedor alvinegro LBGT que já foi vítima de preconceito no estádio. Para ele, o posicionamento o faz sentir-se abraçado e torce para que o clube se empenhe em ações do movimentos futuramente.

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O ano era 2019, o Ceará entrava em campo para duelar com o Atlético-MG pela Série A do Campeonato Brasileiro, na Arena Castelão. Os atletas que defendiam a equipe sequer imaginavam o que acontecia ali bem próximo, nas arquibancadas. Enquanto se dirigia ao setor para acompanhar o duelo de alvinegros, Júnior foi agredido verbal e fisicamente por torcedores de seu próprio time por sua orientação sexual. Além de xingamento, uma pessoa ainda chegou a jogar bebida sobre ele. Com medo, correu para evitar algo pior. Mas, antes mesmo de finalizar a primeira etapa, deixou o estádio e, em muito abalado psicologicamente, voltou para casa. Na época, ao divulgar a situação nas redes sociais, ele recebeu apoio de muitos torcedores e algumas pessoas que trabalhavam no Vovô, mas ficou ressentimento pois não teve nenhum tipo de suporte do clube.

Conhecido como “Time do Povo”, a postura de se posicionar a favor da campanha contra a homofobia faz com que o Vovô abra portas para também demonstrar que é “time de todos”, mesmo depois de tanto tempo em silêncio sobre a causa. É esse o sentimento de Júnior.

“Vejo a publicação como um despertar, ainda que minimamente, de uma conscientização que já deveria ter vindo muito antes. Porém, que bom que hoje, ainda que tardio, veio. Fiquei muito feliz, emocionado e contente, pois vivendo o ataque que sofri no estádio, onde naquela época tive o silêncio como resposta e hoje ver uma publicação em defesa de corpos e pessoas como eu, me fez refletir contente sobre a importância de resistir a esses locais e de se sentir abraçado pelo clube que amo”, disse o torcedor.

Apesar de contente ao ver o Alvinegro de Porangabuçu abraçar a causa e prezar “pelo respeito e pela liberdade”, como diz a postagem feita nas redes sociais da equipe, Júnior acredita que precisa ir além de uma se posicionar por questões publicitárias e ir além, demonstrando real apoio, como não apoiar músicas homofóbicas que muitas vezes são entoadas na arquibancada, por exemplo. O Ceará, inclusive, tem uma torcida LGBTQIA+, conhecida por a Vozão Pride.

“O Ceará poderia incluir causas LGBT’s em dias não comerciais, conversar com a torcida organizada para rever cânticos homofóbicos, trazer artistas LGBT’s para seus eventos, colocar torcedores LGBT’s para falar sobre suas demandas, experiências, visões sobre justamente essa data de hoje, apoiar a Vozão Pride, que hoje é um movimento dentro das torcidas que o público é LGBT, conversar com atletas sobre a importância de seus posicionamentos, pois atinge muitas pessoas, em caso de ataques homofóbicos como sofri, usar de suas redes para afirmar que não compactua com isso e, acima de tudo, proteger seus torcedores LGBT’s. Também usando de sua marca própria para comercializar produtos, como blusas LGBT’s , por exemplo. Nos enxergar como parte”, opina.

Júnior Saad, quando criança, ao lado do ídolo e ex-goleiro Adilson “Paredão”. Foto: Arquivo pessoal

Acreditando que esse primeiro posicionamento oficial do clube é o primeiro passo para algo maior que possa ser construído no futuro, Júnior Saad entende isso como um recado que o clube se importa e abraça os torcedores que sofrem por sua orientação sexual, entendendo que todos têm espaço para que juntos torçam para o Ceará.

“É um fator determinante e pontapé inicial para uma construção coletiva de respeito, assim como também consigo enxergar que o clube toma para si uma responsabilidade, ainda que mínima, sobre seus torcedores e torcedoras LGBTQIA+, pois mostra que se importa e abraça essas pessoas. A ausência do posicionamento dá margem para que pessoas sigam tornando esse espaço extremamente hostil para nós, LGBT’s. A importância de se mostrar unido à causa mostra uma responsabilidade social, assim como o fator determinante para fazer pensar na inclusão em espaços historicamente negados a nós, como é o estádio de futebol para homens gays como eu. Mostra que nossos corpos podem e devem estar ali e que o respeito e responsabilidade é também do clube”, finalizou.

Nesta terça-feira (17), o Ceará entra em campo às 19h15 para enfrentar o paraguaio General Caballero, pela 5ª rodada da Sul-Americana, na Arena Castelão.