Meu Vozão Ceará Sporting Club

OPINIÃO | Ceará, não se esqueça: tua glória (ainda) é LUTAR

Erick Pulga, Saulo Mineiro, Ceará
Foto: Thiago Juvêncio / @thiagojuvencio_photografo

O dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht (1898 – 1956) compôs um poema que se encaixa perfeitamente na realidade atual do Ceará Sporting Club. O poema diz que: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis. NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual”.

Há aqui, pelo menos, duas mensagens essenciais que deveriam ser objetos de aprendizado da diretoria atual (se é que ela consegue aprender algo, posto seu narcisismo tóxico), ou seja, é preciso, primeiro, lutar contra a realidade imposta, a fim de transformá-la e, segundo, para que isto seja possível é necessário romper com os hábitos que parecem corretos, mas que, na verdade, são a raiz da própria derrocada.

Especificamente, sobre a relação entre lutar e a atualidade do Ceará S.C, a torcida sofre de um sentimento de desgosto quase crônico, aquele sentimento de que todo nosso potencial enquanto clube nunca fora alcançado, podíamos ir mais longe e, ao invés disso, estamos caindo. Se colocarmos em perspectiva a diminuição de receita somada com a má gestão dos poucos dividendos que temos, os quais resultam em constantes Transfer ban e dívidas irrisórias com clubes muito pequenos, todo este caldo causa um quadro de depressão esportiva da torcida.

Mascote Ceará
Foto: Fausto Filho / Ceará SC

No entanto, apesar daqueles que nos causam este sentimento, convoco a torcida do Ceará a seguir lutando, a seguir incomodando a diretoria, a seguir bradando contra os arroubos elitistas; a luta está nosso DNA de torcedor alvinegro, envolvidos pelo hino composto pelo imprescindível José Jatahy (1910 – 1973), a própria ideia de que nossa glória é lutar. Isto também significa nunca abandonar, apesar de um Conselho Deliberativo elitista e omisso, uma diretoria inepta e um time fraco; não importa, nunca abandonaremos.

Isso nos leva a segunda mensagem essencial que Brecht nos empresta para pensar o Ceará atual, ou seja, a diretoria reproduz um modelo de gestão que segue fracassando. Ora, sei que o fracasso é parte da vida, o erro é algo natural aos humanos e é necessário dar sempre uma segunda e, quiçá, terceira chance. Entretanto, a diretoria e o Conselho Deliberativo do Ceará já ultrapassaram o mero equívoco e já estão completamente envolvidos nos maus hábitos próprios aqueles que nada mais são que pessoas apegadas ao poder e à vaidade do cargo.

Como romper com estes maus hábitos? Como reconhecer os próprios erros e dar meia volta em direção a outro caminho? Para tentar vislumbrar uma resposta é preciso dizer, antes de tudo: obrigado diretoria por ter lutado para que pudéssemos ganhar um campeonato essencial que tirou o penta do rival, ou seja, “lutaste um dia e foram bons”. Contudo, há de reconhecer que tudo mais fracassou e o maior fracasso foi ter afastado a torcida do sentimento de fazer parte do clube; estão transformando o deleite de torcer Ceará em uma amargura.

Torcida do Ceará
Foto: Gabriel Silva / Ceará SC

Juntemos a luta, que é o fundamento da glória de torcer Ceará, com o rompimento com os maus hábitos, com o intuito de manter o ânimo da imprescindível tarefa que é torcer pelo Vovô em um contexto terrível da história de nossa clube. Tudo flui, tudo muda, e neste sentido a torcida precisa ser a única coisa imprescindível ao nosso clube, de modo que continuemos, torcedores alvinegros, lutando para que ele mude de rota; lutemos como o autor de nosso hino, o compositor e ativista José Jatahy a quem dedico esta coluna.

PS 1: Escrevi este texto embalado pela voz de Mercedes Sosa, principalmente pelas canções Sueño com Serpientes, Sólo le pido a Diós e Como la cigarra. Canções que Jatahy aprovaria. Aliás, recomendo a todo alvinegro a pesquisar a história deste compositor. PS 2: Recuso-me a falar sobre a equipe dentro de campo neste contexto de futebol terrível aos olhos e ao coração. Em breve volto a tratar disso.