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OPINIÃO | 10 razões pelas quais o Ceará não deve conseguir o acesso pra Série A

Erick, atacante do Ceará.
Foto: Thiago Gadelha / SVM

Hoje faz exatos quatro meses da saída de Gustavo Morínigo do comando do Ceará, treinador paraguaio que foi o grande pilar da conquista da Copa do Nordeste 2023. A expectativa da torcida, imprensa e de quem acompanha futebol num geral era de que o Vozão fosse brigar pelo título, retornando à Série A do Brasileirão sem maiores problemas.

Mas, nesse matéria citarei dez motivos pelos quais o Alvinegro não deverá subir em 2023.

1 – Brigas políticas

Após a queda do Ceará para a Série B, o clima obviamente ficou muito tenso entre membros da Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo e torcida. O que se viu foi uma incerteza geral sobre como tudo seria no ano de 2023, quando o certo seria ter feito desde já um planejamento completo para o que seria uma temporada muito dura de recuperação.

Somente em 9 de fevereiro, Robinson de Castro anunciou sua saída do clube e, após isso, Carlos Moraes assumiu a presidência de maneira interina durante 50 dias. Até finalmente, em 29 de março, João Paulo Silva iniciar um mandato que dura até o fim de 2024.

Um acesso já é difícil por si só, imaginem num ano em que temos três presidentes!

2 – Ceará não usa o “fator casa

O Ceará sempre foi um time muito difícil de ser batido em casa historicamente, mesmo na época da Série A. Nessa Série B não é isso que vemos.

Apesar do desempenho com Guto Ferreira ter melhorado um pouco com três vitórias e dois empates em cinco jogos, antes dele o rendimento era pífio com apenas dois vitórias, uma empate e quatro derrotas.

É bem verdade que o Vozão teve três jogos com portões fechados ainda no início da competição. Mas, mesmo assim, pela qualidade e custo do time não dá para encarar com normal derrotas tão vexatórias como as que tivemos para Guarani-SP e VitóriaBA.

Além daquele 3 a 0 sofrido para o Novorizontino-SP, onde tivemos crianças e mulheres prestigiando o time e fazendo uma festa linda na Arena Vozão com um público de mais de 39 mil pessoas presentes.

Um time que não vence suas partidas em casa, está muito mais longe do acesso. O Ceará é apenas o 12° em pontos conquistados dentro de casa, enquanto Sport-PE e Vitória-BA que estão lá em cima na tabela, venceram 10 dos 12 jogos que fizeram em seus domínios.

Jean Carlos, meia do Ceará.
Ceará tem um desempenho ruim dentro de casa na Série B. Foto: Thiago Gadelha / SVM

3 – Morínigo demitido de forma precoce

O Ceará sob o comando do Gustavo Morínigo foi de longe a melhor versão desse time de 2023, com uma transição incrível, atletas voando como Erick, Guilherme Castilho, Janderson e Vitor Gabriel fazendo um início incrível, principalmente o camisa 11.

Morínigo soube entender o elenco que tinha e conseguiu unir modelo e identidade de jogo a bons resultados, conquistando a Copa do Nordeste sobre o forte time do Sport-PE e engatando três vitórias seguidas diante do Fortaleza, algo que não acontecia desde 2013 quando o rival ainda jogava a Série C e não tinha toda essa “pompa”.

Após apenas dois jogos na Série B, o treinador foi demitido sem muitas explicações, apenas com o presidente João Paulo falando: “A performance não estava agradando”.

O paraguaio no Ceará teve um aproveitamento de cerca de 65%, o que seria suficiente para um possível acesso.

4 – Eduardo Barroca e Guto Ferreira

Se com Morínigo o time tinha muita competitividade e força, principalmente nos grandes jogos, com Barroca, seu substituto, isso foi por “água abaixo”. O treinador, que antes do Vovô tinha apenas 1.17 pontos por jogo de média, precisava fazer a melhor campanha da sua carreira para ter sucesso e alcançar um possível acesso.

Isso não se confirmou, como era óbvio. O técnico carioca até não foi tão mal assim, porém foi insuficiente e teve muitos jogos ruins em casa, como nas derrotas para Vitória-BA, Novorizontino-SP e CRB-AL, além de um empate diante do Avaí-SC.

Com uma campanha de seis vitórias, três empates, quatro derrotas e aproveitamento de 54%, ele acabou demitido.

Seu substituto, um velho conhecido, Guto Ferreira, experiente na competição, com alguns acessos e uma passagem vitoriosa pelo Vovô em 2020/21, tinha tudo para dar certo, ok?

Infelizmente até o presente momento isso não se concretizou. Com escolhas pra lá de questionáveis, um futebol sem inspiração e muitas críticas da torcida, Guto conseguiu piorar o que já estava ruim com Barroca. No momento dessa matéria, ele tem apenas três vitórias em 10 jogos no comando do Alvinegro.

Guto Ferreira, treinador do Ceará,
Foto: Felipe Santos / Ceará SC

5 – Reformulação no meio da competição

O Ceará tinha um time muito forte no início da competição e que o torcedor sabia de cor e salteado, com um 4-3-3 bem definido e um modelo de jogo voltando para a transição ofensiva. Hoje temos vários novos nomes e a cada jogo uma escalação diferente.

Do início da Série B até a data de hoje, foram nove saídas, incluindo a de jogadores importantes como Arthur Rezende e Vitor Gabriel, que foi vendido por R$5.8 milhões de reais, valor que certamente o Vovô conseguiria pagar e valeria a pena, já que centroavante estava bem ambientado e tendo uma passagem com 11 gols e 5 assistências em 30 jogos.

Não bastasse a quantidade elevada de saídas, o Vovô contratou muita gente. Ao todo, 10 atletas novos chegaram após o início da disputa e metade só entre julho e agosto, faltando apenas menos de um terço da competição.

Incorporar um atleta ao grupo, ao esquema e contexto da equipe já não é tarefa fácil numa competição tão equilibrada e sem tempo de descanso, imagina cinco atletas. Complica muito o trabalho de qualquer treinador, mesmo que em tese sejam mais “reforços”.

6 – Problemas defensivos

Desde o início do ano o Ceará sofreu muitos gols e não teve a solidez defensiva que a torcida esperava do time. Foram 49 gols sofridos em apenas 47 jogos disputados, sendo 24 na Série B em 24 jogos. Um time com uma defesa sólida tem meio caminho andado para o acesso.

A causa desse problema tem sido a escolha conservadora dos treinadores de escalar Tiago Pagnussat e Luiz Otávio de titulares durante vários jogos, mesmo tendo defensores mais ágeis e jovens, como Léo Santos e David Ricardo, por exemplo, que foram muito bem até aqui na temporada.

7 – A baixa eficiência dos nossos centroavantes

Vitor Gabriel ainda é o artilheiro do Ceará na Série B entre os centroavantes, mesmo após quase dois meses de sua saída. O antigo camisa 63 do Vovô marcou quatro gols em 10 jogos na Série B, enquanto Guilherme Bissoli não balançou as redes (teve dois gols anulados), com nove jogos disputados, e Nicolas marcou apenas 3 gols em 20 partidas jogadas.

Não existe um meio de subir sem um bom atacante marcando gols lá na frente. O Sport-PE tem Vagner Love, por exemplo, com 10 gols em 20 jogos e vários desses gols foram decisivos para a equipe pernambucana estar no topo da tabela.

8 – Queda de rendimento dos principais jogadores

Como já mencionado nos “tópicos” acima, o time iniciou o ano com vários atletas indo bem. Porém, esse desempenho não se manteve. Erick, nos últimos 11 jogos, marcou apenas três gols, sendo um de pênalti. Além disso, não está tão criativo e perigoso como havia sido no início da temporada e da Série B.

Castilho, que durante a era Morínigo chegou a ser artilheiro do time, só fez cinco jogos como titular na competição e marcou apenas um gol, um pênalti diante do Atlético-GO quando o jogo já estava 2 a 0 para o Ceará.

Janderson só participou de um gol nessa Série B em 21 jogos, que foi uma assistência diante do Botafogo-SP. Arthur Rezende jogou apenas seis partidas no Campeonato Brasileiro, três sendo titular. O detalhe aqui é que com ele em campo, foram quatro vitórias, um empate e apenas um derrota.

Atletas como Tiago Pagnussat, Nicolas, Warley, Caíque Gonçalves, Richard e Willian Formiga também caíram de forma vertiginosa de rendimento.

9 – Diretoria de futebol inexperiente

Um diretor de futebol é peça-chave para um bom projeto, para a bola balançar a rede adversária e o time vencer. As principais atribuições que quem ocupa esse cargo deve ter são conhecimento de futebol, dominar gestão para impor um bom planejamento estratégico e experiência na hora de formar uma equipe vencedora.

Por mais respaldo que Albeci Jr. possa ter em termos de apoio da diretoria, é bem claro para qualquer torcedor alvinegro que ele ainda não tem a experiência necessária para tal cargo, assim como Lucho González também não tinha em 2022 para ser treinador do Ceará numa Série A. Ainda mais num momento tão delicado.

Isso se mostrou fortemente na forma com que a parte do futebol profissional foi conduzida nesse ano e o título da Copa do Nordeste não pode mascarar isso.

Precisávamos de um diretor com experiência e “know-how“. Albeci poderia ser um coordenador ou algo do tipo para ir ganhando cancha para assumir o cargo num futuro próximo ao invés de “estagiar” numa posição de tanta influência no futuro do “carro-chefe” do clube, que é o futebol profissional masculino.

10 – Má gestão

Um insucesso não deve cair apenas nas costas do diretor de futebol, ainda mais num contexto como o atual, em que o Ceará é o clube mais “rico” da Série B, assim como também possui a maior folha salarial e o elenco mais valioso.

A gestão como um todo falhou desde o início, não tendo um planejamento definido ainda lá em 2022 quando o clube já tinha ideia de que não jogaria a Série A em 2023 e durante todo o processo burocrático de transição que ocorreu desde a saída do Robinson de Castro até João Paulo assumir.

As escolhas são os “gols” que uma gestão pode marcar e, no caso, a nossa falhou tanto quanto nossos atacantes, desde a nomeação de alguns diretores até a decisão de compra e venda de alguns atletas. Isso sem falar nas tomadas de decisão referentes aos treinadores que passaram por aqui.

Incompetência no futebol não é premiada e, como falei anteriormente, a conquista da Copa do Nordeste não deve mascarar esse fato. Tanto que se observarmos bem a base daquele time já foi desfeita há muito tempo e isso é mais uma prova da falta de critério e de assertividade dessa gestão atual.

A gestão que pegou o Ceará mais endinheirado da história da Série B e não o colocou em nenhuma rodada sequer dentro do G-4. E que agora está “à espera de um milagre” para fazer na reta final do Campeonato Brasileiro o que não conseguiu fazer em 24 rodadas.

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