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OPINIÃO | Reavaliando a avaliação do planejamento do Ceará para 2024

Vagner Mancini, treinador do Ceará.
Vagner Mancini, treinador do Ceará. Foto: Thiago Gadelha / SVM

Em sua coluna publicada na última terça-feira, 7 de novembro, o colega Marcos Vasconcelos refletiu sobre quem deve avaliar os avaliadores, uma vez que não apenas todos os diretores haviam renunciado, mas também os responsáveis atuais pelo futebol do Ceará não parecem entender muito bem sobre as dinâmicas do jogo no campo. Exceto um a saber: o técnico Vagner Mancini.

Obviamente, Mancini tem interesse que seu trabalho continue e a dúvida que a reflexão do nosso colunista Marcos “deixou no ar” foi a seguinte: o treinador estaria trabalhando em favor de tornar o Ceará mais forte no próximo ano ou para se manter no cargo, apesar dos maus resultados?

Pessoalmente, lembro de Mancini como jogador em sua passagem pelo Ceará e lembro muito bem que ele sempre foi atencioso e educado com a torcida, além de muito dedicado dentro de campo em uma época terrível do ponto de vista estrutural e de organização diretiva (refiro-me ao início dos anos 2000).

Vagner Mancini jogou no Ceará em 2002
Vagner Mancini jogou no Ceará em 2002. Foto: Reprodução

Também recordo de sua primeira passagem como treinador, na qual fomos a semifinal da Copa de Brasil e que o clube declinou quando de sua demissão no final da Série A do Brasileirão 2011, sendo, assim, rebaixado. Contudo, isto não abona a dúvida aventada pelo colega, que é legítima; então, o que fazer? Tenho três soluções a apresentar.

Primeiro, este não é um momento de “caça às bruxas”, apesar de ser muito convidativo algo desse tipo. É necessário ter calma para avaliar o elenco e ninguém é mais qualificado para isso, atualmente, do que o próprio Mancini.

Desse modo, é preciso entender o momento ruim do time e avaliar cada jogador individualmente a partir de um olhar clínico; penso que atletas como Erick Pulga, Léo Santos, Guilherme Castilho, Chrystian Barletta e até mesmo Luiz Otávio, todos estes devem continuar, mas dando a eles, e a outros nessa mesma situação (Zé Ricardo, Guilherme Bissoli, Jean Carlos etc.), outro ambiente de cobrança e calmaria para desenvolver seu futebol.

Luiz Otávio, zagueiro do Ceará.
Foto: Fausto Filho / Ceará SC

Além disso, necessitamos de reforços muito bons, que podem ser tanto caros (pois é melhor, por exemplo, um goleador que custa R$200 mil por mês do que três centroavantes medianos que custam R$90 mil cada) quanto baratos, mas cirurgicamente identificados (dou como exemplo o volante Falcão do CRB-AL).

Segundo, as avaliações de Mancini precisam ser confrontadas e corroboradas pela nova diretoria de futebol que está se formando. O sentido de confronto que aqui coloco diz respeito a pontuar se os jogadores que ficarão para o ano que vem podem se encaixar em um estilo de jogo efetivo ou mesmo, segundo suas características, podem servir para mudar tal estilo em determinadas partidas, visando a vitória.

Já quanto a corroborar, penso que é necessário acertar os rumos agora, de modo que em Janeiro já tenhamos um planejamento para o ano inteiro, o qual deve ser ajustado se algo não correr bem, mas sem perder a essência do que foi planejado e sem demitir o treinador ao longo do ano.

O estilo de jogo que melhor definiu o Ceará nestes últimos anos foi o reativo, com contra-ataques rápidos e organização defensiva sólida (funcionou nos melhores momentos de Guto Ferreira em 2021 e na conquista do Nordestão de 2023 com Gustavo Morinigo). Acho interessante insistir nisso, mas de modo a ajustá-lo sempre que for preciso enfrentar adversários que joguem parecido, a fim de também saber como manter a bola e, gradualmente, mudá-lo no futuro.

Gustavo Morínigo em jogo da Copa do Nordeste
Foto: Divulgação / Ceaá SC

Terceiro, talvez esta seja a parte mais polêmica de minha opinião. Mancini não seria o meu técnico para o ano que vem, mas sim um bom diretor de Futebol. É identificado com o clube, conhece o mercado e os empresários, sabe cobrar o elenco e desenha aos atletas muito bem o que significa jogar no Ceará. Todas estas características o qualificam para a função; contudo, quem eu escolheria para ser meu treinador?

Acho que se o Ceará quiser voltar à Série A e manter-se lá, necessita de alguém queira crescer junto ao clube e, em minha visão, Alex de Souza (ex-jogador do Palmeiras, Cruzeiro e Seleção Brasileira) seria a melhor escolha. Ele tem ganas de crescer na carreira, conhece o campo muito bem, estudioso, nível intelectual elevado etc.

O que pesa contra é a sua pouca experiência na função de treinador, mas aqui entraria Mancini como seu esteio, aquele cuja experiência se complementaria com os conhecimentos de Alex. Para que isso, de fato, funcione, seria necessário dar tempo ao treinador, não rifá-lo se ele não for bem no Campeonato Cearense ou Copa do Nordeste ou mesmo se for bem nas duas competições, mas tiver um mau começo na Série B.

Manter o planejamento é essencial para bons resultados no fim do ano, pois não é pouca a quantidade de clubes que vão mal no primeiro semestre e conseguem o acesso no fim do ano. Em suma, não escutar as cornetas e seguir o planejado.

Entretanto, se voltarmos ao questionamento inicial e nos perguntarmos se os avaliadores atuais que estão no Ceará têm condições de fazer um planejamento como este, eu diria que não.

O presidente João Paulo Silva não parece entender de futebol ou tampouco querer estudar para melhor compreender os seus processos; ele está mais preocupado com a opinião imediatista da torcida do que propriamente gerir o clube segundo um planejamento de futebol sólido.

Todavia, como costuma dizer o filósofo, a crítica é necessária e significa reconhecer os limites, tanto de quem reflete quanto do objeto refletido; com isso, não nos resta outra coisa, senão reconhecer os limites da atual diretoria e torcer para que um feixe de iluminação adentre as cabeças pensantes do corpo diretivo.

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