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As lições deixadas com a saída de Dorival Júnior

Foto: Felipe Santos / Ceará SC

A saída de Dorival Júnior para o Flamengo é muito mais que uma simples transição de um técnico para outra equipe. Esse movimento de deixar um clube, que estava estabilizado, para um outro maior, mas que vem de uma sequência de demissões de técnicos pós-Jorge Jesus, deixa lições bem claras.

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577. Esse foi o número de dias que Dorival Júnior ficou desempregado desde o anúncio de sua demissão no Athletico-PR, em 26 de agosto de 2020, até ser contratado pelo Ceará, em 28 de março deste ano. Além de uma brava luta contra um câncer de próstata e a Covid-19, o paulista também passou quase dois anos longe do mercado, sem ninguém acreditar no seu potencial de treinador.

Foi nesse momento em que o Vovô apareceu, abrindo-lhe as portas quando ninguém mais o fez. Um início conturbado, já que o clube vinha passando por muita pressão devido eliminações precoces no Campeonato Cearense, para o Iguatu, e Copa do Nordeste, para o CRB-AL nos pênaltis. Logo em sua chegada, o time precisava dar rápida resposta em campo ao seu torcedor. Sua estreia como técnico foi em 5 de abril e o grupo venceu o Independiente-ARG, na primeira rodada da Sul-Americana. Após pouco mais de dois meses, Dorival Júnior estava estabilizado, em crescimento e com o elenco focado nas competições.

Porém, depois de apenas 73 dias de trabalho e menos de 20 jogos, o treinador sai pelas portas do fundo de Porangabuçu para ir para o clube Gávea, que já o tinha demitido em 2018. Dorival abandonou o barco, na última quinta-feira (9), faltando 13 para o primeiro jogo das oitavas da Copa do Brasil, quando o Vovô enfrentará o Fortaleza, seu maior rival, e 20 dias para o duelo das oitavas da Sul-Americana, contra o The Strongest/BOL. Que além de ser uma forte equipe, com um excelente jogo aéreo , também contará com o apoio da altitude no confronto de ida.

Não apenas isso. Ele deixa todo esse projeto para trás e segue para, sim, um grande clube, com salário, estrutura e elenco melhores, mas que vem de uma sequência de demissão de técnicos desde a saída de Jorge Jesus. Em busca de encontrar o “novo mister”, Domènec Torrent, que havia sido auxiliar de ninguém menos de Pep Guardiola, Rogério Ceni, campeão Brasileiro pela equipe, e Paulo Sousa, que tentou a todo custo não ser boicotado por um elenco de estrelas, sentaram na mesa da demissão, mesmo quando o maior problema era bem maior que eles. Dorival assina um contrato de apenas seis meses, já com data de validade, sabendo que a “quarta cadeira” o espera.

A precoce saída do técnico, com apenas 18 jogos no comando do time e 61% de aproveitamento, deixa um sentimento de mágoa e frustração naqueles que vestem preto e branco. Pois o povo alvinegro abraçou Dorival Júnior no momento em que ele estava esquecido do mercado e acreditou no seu projeto, mas não houve reciprocidade quando uma proposta maior chegou à sua mesa.

É preciso, sim, respeitar as escolhas pessoais e profissionais de cada um. Mas, essa decisão deixa bem claro o que os clubes nordestinos ainda são para muitos: trampolim. Uma forma de aparecer, ou reaparecer, e deixar o trabalho no meio, ou ainda no começo, na primeira oportunidade. Assim como fez Jorginho, que após pedir demissão em 2018, alegando “problemas pessoais”, foi anunciado como novo treinador do Vasco na mesma semana. Ou como Enderson Moreira, nome que está sendo ventilado como possível substituto de Dorival. Em 2020, ao receber uma proposta do Cruzeiro, ele simplesmente pegou seu carro e dirigiu da capital cearense até Belo Horizonte, deixando todo o projeto do Ceará para trás.

Esses mesmos técnicos reclamam fortemente quando são mandados embora após más sequências de resultados. Porém, cobram um respeito aos clubes que, em suma maioria, não dão quando um contrato maior bate à sua porta. A lição que tudo isso deixa é que o futebol nordestino ainda segue sendo visto apenas como porta de entrada para treinadores brasileiros e que apenas a união de clubes com suas massas poderá mudar esse cenário e lutar batalhas bem maiores do que apenas permanências na elite do Brasileirão.

Pois, uma coisa é fato: todos passam, mas a torcida permanece!

Foto: Divulgação / Ceará SC