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RETROSPECTIVA 2022! Incompetência e teimosia marcaram o ano fracassado do Ceará

Foto: Aurélio Alves / O Povo

O ano de 2022 está em seu último dia e isso é motivo de muita alegria para a torcida do Ceará, que não teve motivo parar comemorar durante toda a temporada. Com cinco treinadores diferentes no decorrer das competições, sendo um interino, o time disputou cinco certames sendo eliminado em quatro e rebaixado em um.

Apesar da equipe ter se classificado de forma invicta na Copa do Nordeste, o futebol apresentado não agradava ninguém. Até mesmo contra equipes menores, a equipe demonstrava dificuldades de “se encontrar” em campo e desde ali já era visível os vários gols perdidos. Com Tiago Nunes à frente do grupo, o treinador não queria contar com alguns jogadores e a diretoria liberou mais de 20 atletas, tanto por empréstimo como também por rescisões. Mas, mesmo parecendo cheio de ideias, o treinador sucumbiu à eliminações. Desclassificado duas vezes num período de um mês – nas quartas do Cearense para o Iguatu e quartas da Copa do Nordeste para o CRB/RL – e, com um agravante, ambos nos pênaltis, o treinador foi demitido.

Tiago Nunes passou três meses no Ceará em 2022. Foto: Divulgação / Ceará SC

Dorival Júnior chegou em março para assumir o lugar que vinha sendo de Nunes. Recuperado de uma grave doença e estando há mais de um ano desempregado, o renomado treinador iniciou seu trabalho e contou por a “sorte” por um período sem jogos, apenas treinando e conhecendo o elenco. E não demorou muito para que ele pudesse colocar o time “nos trilhos”. Na sua estreia, o Ceará venceu o Independiente-ARG de virada, na Arena Castelão, pela Sul-Americana. E, depois disso, o time foi evoluindo. Bom aproveitamento no Brasileirão, começando com o “pé direito” ao vencer o Palmeiras na estreia fora de casa, e campanha invicta na primeira fase da Sul-Americana foram motivos que passaram confiança ao torcedor naquele momento.

Mas, como diz a frase tão conhecida pelo seu povão: “se não for difícil, não é Ceará”. Desempenhando um bom trabalho no Alvinegro, que ainda estava em período de evolução, Dorival chamou atenção do Flamengo, onde já tinha trabalhado no passado, e não titubeou na hora de deixar o Ceará. Desta forma, com pouco mais de dois meses trocou Porangabuçu pela Gávea.

Sua saída foi bastante criticada por torcedores e também pela imprensa. Pois, antes tendo dito que não concordar com quebras de contratos, o treinador ali deixava um trabalho no meio por um contrato maior.

Dorival Júnior passou pouco mais de dois meses à frente do Ceará. Foto: Divulgação / Ceará SC

Assim, inicia-se ali um novo processo para contratação de treinador. Alguns nomes foram “ventilados” e, dentre eles, o de Enderson Moreira. Mas, o trabalho do treinador, que já tinha passado pelo clube em 2019, ainda estava muito vivo na memória do torcedor. Assim, um grande número de alvinegros utilizou das redes sociais para protestar sobre o possível retorno do técnico. Assim, a negociação recuou e a diretoria alvinegra anunciou o novo treinador do Ceará: Marquinhos Santos.

Já conhecido do futebol cearense, por ter comandado o Fortaleza em 2013, Marquinhos chegou sob muita desconfiança e a trajetória de seu trabalho foi bastante turbulenta. Sendo alvo de protestos e vaias da torcida sempre que sua foto aparecia no telão do estádio, o técnico esteve sempre pressionado. De cara, sua equipe foi eliminada na Copa do Brasil. Pelo segundo ano seguido, o Vovô caia na competição para seu maior rival e, além da questão moral, ainda deixava de arrecadar uma boa grana.

Mas os resultados ruins não pararam por aí. Seu início no Brasileirão teve uma sequência de seis jogos sem vencer e, mesmo vencendo as oitavas, o time foi eliminado nas quartas da Sul-Americana. Derrotado por 1 a 0 pelo São Paulo na ida, dentro de casa o Vovô venceu por 3 a 2 no tempo normal e levou o resultado para as cobranças alternadas. Mas, mais uma vez o clube estava diante do seu maior algoz da temporada: pênaltis. E ali foi eliminado. O time chegava à sua quarta desclassificação em 2022, três acontecidas em penalidades.

Com apenas um mês no comando e mais um resultado negativo, desta vez derrota por 1 a 0 para o Fortaleza no segundo turno do Brasileirão, Marquinhos Santos não foi sustentado no cargo e, horas depois do revés no Clássico-Rei, o treinador foi demitido.

Marquinhos Santos não teve bom resultados no Ceará. Foto: Thiago Gadelha / SVM

Dez dias. Esse é o período que o Ceará ficou sem um treinador definitivo e a diretoria, como fez durante toda a temporada, não apareceu em nenhum momento para dar satisfações ao seu torcedor. Parecendo desnorteada, nomes de possíveis novos técnicos eram especulados na imprensa e o torcedor, que àquela altura tinha ultrapassado os 50 mil sócios adimplentes, esperavam um posicionamento do clube.

Naquele momento, o foco era apenas um: permanência na Série A. Então, depois de um longo período de profundo silêncio, o Ceará apresentou um novo técnico: Lucho González. Supercampeão como jogador, o argentino iniciava ali uma nova trajetória, a de ser técnico. Mas, era o momento de fazer aposta? Os acontecimentos no decorrer de seu período à frente do time mostraram que não.

O “hermano” chegava com ideias diferentes, em sua comissão contava com um preparador físico que sempre era visto chamando atenção dos jogadores. Mas, os novos trabalhos não agradaram a todos e os atletas, que há muito tempo já não rendiam em campo, fizeram “beicinho” para formato que o Lucho lhes apresentava de atividades de treinamentos.

Apesar de ter iniciado bem e recebendo elogios, somado ao empate fora de casa com o Flamengo e vitória sobre o Santos, na Arena Castelão, a sequência de resultados não foi como esperada. As apresentações e resultados tão ruins quanto na “era Marquinhos Santos” tiveram como consequência à zona de rebaixamento.

Então, mais uma demissão aconteceu em Porangabuçu. E, assim como seu antecessor, Lucho González passou somente um mês no comando da equipe.

Lucho González foi mais um técnico que não ficou até o fim de seu contrato. Foto: Davi Rocha | Pera Photo Press

Com a saída do argentino, encerrava ali a passagem de quatro treinadores diferentes pelo Ceará na temporada. E coube a Juca Antonello, auxiliar técnico permanente, tomar conta da equipe na reta final do Brasileirão, algo que ele já havia feito como interino durante as trocas de comandos. Nos últimos cinco jogos com ele à frente, o time seguiu a mesma carretilha de incompetência e, mesmo com várias chances matemáticas de sair do Z-4, o torcedor viu o seu amado Vovô ser rebaixado.

No ano de maior investimento financeiro, o Alvinegro finalizou a campanha de 2022 da mesma maneira que começou: fracassando. Após 11 jogos sem conquistar nenhuma vitória, o Ceará conseguiu o feito de ser derrotado por 2 a 0 para o já rebaixado Avaí-SC, em jogo de pênalti desperdiçado e bola na trave, e ali confirmava confirmava sua presença na Série B 2023 ao lado do time catarinense e Juventude-RS. Foi contra os gaúchos, inclusive, que o time encerrou a sequência negativa e voltou a vencer. Na última rodada, o time entrou com uma mescla de jovens e experientes e, numa apresentação digna contra a equipe também mista do Juventude, aplicou 4 a 1. Um resultado que teria levado a torcida à loucura, se ela pudesse estar presente e se aquela pudesse evitar a queda.

Auxiliar técnico permanente, Juca Antonello também trabalhou como técnico interino. Foto: Thiago Gadelha / SVM

Tristeza e indignação tomavam conta da torcida, que se destacou entre as principais médias de público do Brasil em 2022. E, fazendo sua parte, a massa alvinegra viu o time cair no ano do maior orçamento da história do clube. O sucesso e crescimento do clube foram impedidos por erros consecutivos da diretoria. Com pensamento de acomodação, o presidente Robinson de Castro seguiu fazendo contratações erradas, apostando em jogadores lesionados, como foi o caso de Matheus Peixoto, e desmotivados, caso de Dentinho que nunca esteve 100% fisicamente e seu nome foi especulado em participação em reality show de casais, o Power Couple.

Desta forma, o ano de 2022 vai ficar marcado de forma negativa para o torcedor do Alvinegro de Porangabuçu. Quebra total da pouca relação amistosa entre diretoria e torcida. Protestos pela saída do presidente. Falta de comando fora e dentro do campo.

O Ceará se despede deste ano com tristeza, sabendo que tinha condições de ter feito melhor. Muito melhor. Mas, que erros e teimosias recorrentes foram plantadas e a colheita foi a pior possível: uma péssima temporada recheada de resultados negativos e, “de brinde”, fechando o ano com o rebaixamento na conta.

Que as lições tenham aprendidas para que não voltem a repeti-las em 2023.